quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Jornalistas diplomados X Jornalistas sem diplomas

Qual a essência do jornalismo? Esta pergunta vem inquietando a muitas pessoas, e o evento volta sempre à tona quando alguém comenta a não obrigatoriedade do diploma para ao exercício da função do jornalista.

Mas e então? Como se posicionar? Se for contra o diploma me perguntarão por que cursei e me formei em jornalismo numa universidade, e se disser que sou a favor do diploma vão dizer que estou apenas defendendo a classe jornalística. Pessoalmente considero esse fato uma “questão sensível” pela profundidade que abrange o tema, mas ficar em cima do muro é consolidar a força presente do jogo de interesses.

Quem Eu Sou para poder classificar o jornalismo?!! O jornalismo é matéria abrangente que envolve diferentes fatores e concepções, tão variáveis quanto forem as cabeças pensantes, por isso há tanta diversidade de expressões e olhares no jornalismo mundial e nacional em qualquer um dos meios de comunicação. Então qual é o papel da Universidade? Bem, boa pergunta.

Estudei por longos anos o curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo em Multimeios, para descobrir que não sei o porquê se estudar numa universidade para atuar na profissão de jornalista. Isso mesmo, gosto muito do jornalismo, o suficiente para saber que um profissional ético e competente na sua função de informar não necessariamente sai de uma universidade. Pois enquanto a expressão e a comunicação são múltiplas e variáveis, as universidades buscam enquadrar seus estudantes em modelos e padrões, como se fossemos gesso em pó, o aprendizado a água, e a universidade a fôrma, saindo todos meio robotizados, meio autômatos, um pouco iguais.

Não pensem vocês que sou contra os cursos superiores, na verdade para quem gosta e trabalha com jornalismo e pode se dar ao luxo de estudar, ou aos que não trabalham mas estão se preparando para trabalhar, estudar numa universidade é muito satisfatório, abre inúmeras portas, as principais dentro de sua própria alma, pois o conhecimento adquirido é a riqueza que traça não come e o ladrão não rouba. Um estudante do curso superior de jornalismo não se forma jornalista, se forma Comunicólogo, podendo atuar em diferentes setores da comunicação, como assessoria (de políticos, empresas e celebridades), planejamento de comunicação, editoração, educação, entre outras habilidades que uma formação acadêmica possibilita, além é claro, de também poder atuar como repórter de campo. Com tanta maleabilidade na formação de um comunicólogo, é muita arrogância afirmar que um jornalista formado irá atuar eticamente e sempre disposto a revelar a verdade ao público, já que esse mesmo formado é capaz de trabalhar na assessoria de políticos e de empresas nem sempre com as fichas limpas, ou que sejam sinônimos de honestidade.

Trabalhar eticamente com Jornalismo é uma coisa e com Assessoria é outra, enquanto um busca investigar e divulgar os fatos ao mundo, o outro edita tudo que será divulgado, manipulando a informação que será transmitida. Infelizmente o jornalismo atual também é acusado de editar as informações que são divulgadas, geralmente sendo a favor dos empresários e patrocinadores. Mas o triste é saber que é na universidade que eles ensinam que o jornalista na empresa é quem tem a menor voz, e que quem manda na empresa é a linha editorial dela, que por sua vez é dominada pelos empresários. Em suma são teorias e mais teorias para que saiamos da universidade com medo, domados e alienados com a idéia (realista?) de que quem governa o mundo são os grandes empresários e de que sozinhos não podemos fazer nada a não ser obedecer ou ficar desempregado. Então é para isso que as universidades servem? Para preparar pessoas que digam “sim”, “sim” ao primeiro com recursos para pagar por nossos serviços? Isso merece uma reflexão.

Considerando esta triste realidade das universidades de jornalismo do Brasil (apesar de ter estudado em “apenas” uma, conheci e conversei com estudantes de todo o Brasil.) sou a favor da não obrigatoriedade do diploma para o exercício da função de jornalista, afinal qualquer pessoa não diplomada pode atuar eticamente enquanto jornalista desde que conheça seus direitos e deveres constitucionais e não os transgrida.

A sociedade antes estava dividida em contras e a favor do diploma, hoje continua a mesma divisão, mas quem é a favor do diploma esquece do poder das novas mídias, da proliferação dos blogs e das redes sociais, e se esquecem também da sombra da ditadura militar, sombra esta viva ainda hoje nos tabus e dogmas da Constituição Brasileira. Na verdade quem defende a obrigatoriedade do diploma está com medo, não medo de perder o seu emprego, mas sim medo da opinião das pessoas livres, das pessoas que não foram automatizadas pelas universidades, e que não aprenderam a puxar o saco dos “superiores” para conseguir o que queriam.

A universidade pode ensinar a linguagem culta e formal, padrões estéticos do texto, clareza na transmissão das mensagens, o poder da influencia e da persuasão em cada mensagem, entre outras sutilezas e detalhes, mas nem por isso sua mensagem é mais direta, objetiva ou verdadeira que a do comunicador popular e sem diploma, que do seu jeito simples e transgredindo todas as normas “cultas” da língua portuguesa, transmite, conscientiza e educa o povo.

No Brasil temos um Presidente da República que exemplifica bem isso, afinal nenhum comunicólogo formado em qualquer uma das melhores universidades de comunicação do mundo, mesmo com toda a linguagem formal e rebuscada que puder conhecer, foi capaz de conseguir cativar a atenção da população brasileira e mundial da forma que o Presidente Luis Inácio Lula da Silva é capaz de fazer, mesmo este não tendo nenhuma formação acadêmica. Por isso afirmo que a única escola que ensina ética aos corações das pessoas é a Escola da Vida.

Lula não é jornalista, mas sem sombras de dúvidas é um excelente comunicador, e assim como um apresentador de jornal não necessariamente escreve o seu texto, Lula se quiser pode se tornar também um jornalista. De igual forma pode um jornalista se tornar Presidente da República, mas dificilmente terá o mesmo carinho e apoio do povo quanto o Lula, pois pessoas que conseguem dialogar e conciliar com os diferentes segmentos da sociedade são raros de aparecerem, e neste sentido de raridade, Lula é único.

Élder Vieira

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