Fórum Social Mundial Temático (FSMT) ou Fórum Governamental? Essa foi uma pergunta feita por muitas pessoas que participaram da etapa baiana do Fórum Social Mundial, de 29 a 31 de Janeiro de 2010. Pela primeira vez o Fórum Social Mundial (FSM) está atuando de forma descentralizada, ao invés de ocorrer um único evento anual (ou bianual), neste ano terá diferentes etapas do Fórum espalhadas pelo mundo. Se por um lado isso ajuda os diferentes setores regionais a se unirem, por outro fragmenta o espírito de união e solidariedade global que são as grandes marcas deste evento desde a sua 1ª edição (2001) na cidade de Porto Alegre.
Quando o FSM foi criado, ele centralizava diferentes segmentos da sociedade civil organizada de diferentes partes do mundo, era um local onde as pessoas se viam e se descobriam semelhantes uma as outras, sendo as principais semelhanças a humildade, a opressão sofrida pelo sistema político vigente, a vontade de fazer a diferença neste mundo, e a esperança de todos juntos construirmos um mundo melhor. Vale lembrar que o momento político de Brasil era outro, Fernando Henrique era o Presidente da República enquanto Lula expressava os grupos de esquerda do Brasil.
Neste ano de 2010 faz sete anos que Lula está na Presidência da Nação, ou seja, a esquerda chegou ao poder, mas e aí? Será que mudou alguma coisa? Bem, para quem participou desta Edição do FSMT em Salvador com certeza achará que o lema do Fórum Social Mundial - um outro mundo é possível - está se cumprindo no Brasil e na Bahia. Pois foi vasta a propaganda a favor do governo baiano e brasileiro, isso tudo de forma bem direta e visível, ou será que entregar cartilhas com todas as realizações do governo não é propaganda? E incrível, de repente não havia mais problemas a serem resolvidos, acabou a pobreza, a marginalização, os desastres ambientais, a discriminação contra a classe camponesa do Brasil, e etc. “O mundo agora é outro afinal de contas, chegamos ao patamar desejado, se melhorar piora”, só faltou dizerem isso.
Mas também esperar o quê de um evento onde quase todas as mesas tinham no mínimo um político ou alguém ligado ao governo local? É claro que todos sabem que este ano é ano eleitoral e que propaganda eleitoral é a alma (ou arma) do negócio. O discurso dos políticos e representantes oficiais do governo brasileiro no FSMT pareciam estar influenciados pela musicalidade de Caetano Veloso, a maioria repetia: “A Bahia é linda, o Brasil é lindo, tudo é lindo”. Para um desavisado que tivesse vindo de outro Estado ou País participar do Fórum teria a impressão de que a Bahia tem conseguido fazer o “outro mundo possível”, é claro que a impressão duraria enquanto a pessoa não fizesse um passeio pelos bairros de Salvador e cidades da região metropolitana.
Um fato que chamou a atenção foi um evento desta magnitude e importância para os movimentos sociais populares de todo o mundo ter sido realizado dentro de grandes hotéis de Salvador, um local que a maioria dos integrantes dos movimentos sociais não teria condições de se alojar, e que serve para explicitar a grande distancia entre os ricos e os pobres da sociedade atual. Por isso me perguntaram se o acontecimento era mesmo um Fórum Social Mundial ou apenas palanque político comandado por pessoas capitalistas que preferiram pagar - utilizando dinheiro de nossos tantos impostos - hotéis particulares ao invés de utilizar as Universidades locais?
Qual é o grande propósito do Fórum Social Mundial afinal? É realizar o outro mundo possível? Mas o que “um outro mundo” implica dizer? Talvez seja de que “este” mundo em que vivemos não está bom, e há alternativas de se viver que superam as expectativas de vida do modelo de capitalismo a que estamos inseridos. Um outro mundo possível implica atitude de transformação, de quebrar as bases e criar uma sociedade nova, livre de leis que prejudicam a convivência pacífica entre os humanos e o meio ambiente. Não basta ter a soberania política para dizer que estamos num outro mundo possível. Esse “outro mundo” deve ser vivido por toda a população, e não propagados com números e estatísticas que maquiam a realidade.
Se hoje a máquina do “poder” tanto do Brasil quanto da Bahia está nas mãos da antiga esquerda, há muito deveria ter sido revitalizado os sistemas aquaviário e ferroviário de transporte público de cargas e passageiros. No entanto já estamos no 7º ano do governo dito de “esquerda” e sequer as antigas linhas de trem foram revitalizadas, quanto mais esperar um “trem bala” cruzando todo o país. Deve ser conveniente, para alguém muito influente e rico, que a economia ainda esteja dependente do petróleo gerando mais lucro aos caminhoneiros, empresas de ônibus e donos de postos de gasolina, do que necessariamente beneficiar a população usuária do transporte público.
Muitas coisas mais poderiam ser ditas, mas o melhor é que cada um perceba a verdade além das noticias tendenciosas que circulam pelos “grandes meios”. Que o povo abra seus olhos e veja a verdadeira situação do Brasil e da Bahia. Não dá para esconder um metrô que há mais de dez anos construindo nunca é acionado. Não dá para esconder as favelas que crescem a cada dia. Não dá pra esconder milhares de pobres pedindo esmola para poderem sobreviver. Por mais que tentem, não dá pra tapar o sol com uma peneira.
Élder Vieira
Jornalista
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
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